"Trump e o Pix: Por Que os EUA Querem Investigar o Sistema de Pagamentos Brasileiro?"
"Entenda as possíveis motivações por trás do interesse americano no Pix, desde preocupações com segurança até disputas financeiras globais
Ricardo de Moura Pereira
7/17/20255 min read


O governo americano anunciou uma investigação comercial contra o Brasil – e o Pix está no centro da polêmica. Entenda as razões e os possíveis impactos. Na terça-feira (15/7), o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) confirmou a abertura de uma investigação sobre práticas comerciais do Brasil. A medida já era esperada após o ex-presidente Donald Trump ameaçar impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, citando um suposto déficit comercial e criticando o processo judicial contra Jair Bolsonaro, que chamou de "caça às bruxas".
O governo brasileiro rebate, afirmando que os EUA têm superávit de mais de US$ 400 bilhões em 15 anos de comércio bilateral. Mas o que realmente chamou atenção foi a menção indireta ao Pix no relatório do USTR. O documento sugere que o sistema de pagamentos instantâneos, desenvolvido pelo Banco Central, poderia estar prejudicando empresas americanas do setor financeiro.
Por Que o Pix Está Sendo Investigado?
Lançado em novembro de 2020, o Pix se tornou um sucesso absoluto no Brasil, com mais de 160 milhões de usuários e transações que superam TEDs e DOCs. Mas seu rápido crescimento parece ter incomodado gigantes do pagamento digital nos EUA, como PayPal, Visa, Mastercard e fintechs como Stripe e Square.
No relatório, o USTR menciona:
"O Brasil parece envolver-se em práticas desleais em serviços de pagamento eletrônico, incluindo a promoção de um sistema desenvolvido pelo governo."
Apesar da falta de detalhes sobre quais seriam essas "práticas ilegais", analistas apontam três possíveis motivos para a investigação:
1. Proteção às Big Techs e Empresas de Pagamento
Muitas fintechs americanas têm interesse no mercado brasileiro, mas o Pix, por ser público, gratuito e eficiente, dificulta a expansão de soluções privadas. Se o modelo se espalhar por outros países, poderia ameaçar o domínio global das empresas dos EUA.
2. Preocupações com Segurança e Concorrência Desleal?
O governo Trump pode alegar que o Pix, por ser controlado pelo Banco Central, teria vantagens regulatórias sobre concorrentes privados. No entanto, o BC sempre defendeu que o sistema segue padrões internacionais de segurança e não favorece instituições específicas.
3. Retaliação Política ou Barganha Comercial?
A investigação pode ser uma moeda de troca em negociações comerciais. Trump já usou medidas semelhantes contra outros países, como quando ameaçou taxar o AliExpress na disputa com a China.
Como o Brasil Reagiu?
A inclusão do Pix na investigação gerou reações imediatas:
O ministro Rui Costa (Casa Civil) criticou: "Trump está preocupado com o meio de pagamento que um país adota? É inacreditável."
O perfil oficial do governo brasileiro brincou no X (antigo Twitter): "O Pix é nosso, my friend."
Especialistas em comércio exterior afirmam que a medida pode ser mais política do que técnica, já que o Pix não viola regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Quais os Riscos para o Brasil?
Se os EUA decidirem avançar com tarifas ou sanções, as consequências podem incluir:
🔹 Aumento de custos para exportadores brasileiros.
🔹 Pressão para mudanças no Pix, como taxação ou limitações a transações internacionais.
🔹 Tensões diplomáticas em um momento em que o Brasil busca acordos comerciais com outros blocos, como a UE e o Mercosul.
Conclusão: O Pix Vale uma Guerra Comercial?
O sistema de pagamentos brasileiro não é o primeiro alvo de disputas geopolíticas – a China já enfrentou embates semelhantes com seu sistema de pagamento digital. A diferença é que, desta vez, um modelo público e de sucesso está sendo questionado.
Se a investigação avançar, o Brasil pode precisar defender o Pix em fóruns internacionais ou até mesmo rever sua estratégia de integração com sistemas globais. Por enquanto, a mensagem do governo é clara: o Pix veio para ficar.
Ataque ao Pix?
O governo dos Estados Unidos ampliou sua investigação sobre práticas comerciais brasileiras, colocando sob análise não apenas o sistema Pix, mas também questões como pirataria, corrupção e até supostas vantagens competitivas do agronegócio brasileiro. A medida faz parte de uma estratégia mais ampla de proteção aos interesses comerciais americanos, seguindo um padrão já aplicado contra outros países, como China e Indonésia.
O Que Está Sendo Investigado?
Além do Pix, o Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) destacará na investigação:
Combate à pirataria e falsificação de produtos americanos no Brasil;
Fiscalização de corrupção, com alegações de que o país não age com rigor suficiente;
Práticas do agronegócio, especialmente a acusação de que produtores rurais brasileiros teriam vantagens por expandirem cultivos em áreas desmatadas ilegalmente.
Esses pontos seguem uma linha de argumentação usada anteriormente em disputas comerciais, indicando que os EUA podem estar buscando justificar medidas protecionistas, como tarifas ou barreiras a produtos brasileiros.
Por Que o Pix Está no Meio Dessa Disputa?
O sistema de pagamentos instantâneos brasileiro, criado pelo Banco Central, se tornou um fenômeno de adoção massiva, reduzindo a dependência de serviços privados de transferência e cartões. Segundo Carla Beni, economista da FGV-SP, essa popularidade pode estar afetando os planos de grandes empresas americanas no setor financeiro.
Grandes operadoras de cartão, como Visa e Mastercard, perderam espaço com a ascensão do Pix;
Empresas de tecnologia, como a Meta (dona do WhatsApp e Facebook), teriam interesse em entrar no mercado de pagamentos digitais no Brasil, mas esbarraram na dominância do sistema público;
Fintechs internacionais também podem estar pressionando o governo americano a agir, alegando concorrência desleal.
Para Beni, a administração Trump estaria agindo para proteger o mercado de empresas dos EUA, mesmo que isso signifique questionar um sistema que beneficia milhões de brasileiros.
Efeitos Possíveis para o Brasil
Se a investigação levar a sanções ou tarifas, as consequências podem incluir:
Retaliações comerciais, como taxação de exportações brasileiras;
Pressão por mudanças no Pix, como a cobrança de taxas ou limitações a transações internacionais;
Impacto em negociações bilaterais, especialmente em um momento em que o Brasil busca novos acordos comerciais.
Conclusão: Uma Disputa Além do Pix
A investigação americana reflete uma estratégia de defesa agressiva de interesses econômicos, comum em governos como o de Trump. O Pix, por ser um caso de sucesso de política pública, acabou se tornando um alvo – mas a disputa é mais ampla, envolvendo comércio, tecnologia e até questões ambientais.
Enquanto o governo brasileiro defende suas políticas, a pergunta que fica é: os EUA estão realmente preocupados com práticas desleais ou apenas protegendo suas empresas? A resposta pode definir os próximos capítulos dessa relação comercial.