Parceria Brasil-China: Uma Combinação Poderosa para Impulsionar a Agroecologia
Bem Viver demonstra como a combinação de compostagem orgânica acelerada e remineralizadores pode beneficiar a agroecologia.
Ricardo de Moura Pereira
6/30/20254 min read


São Gonçalo, Rio de Janeiro – A produção agroecológica, que busca conciliar a produtividade com a sustentabilidade ambiental e social, pode ganhar um novo e poderoso impulso através da colaboração tecnológica entre Brasil e China. Especialistas e pesquisadores apontam que a união da rica biodiversidade brasileira e do vasto conhecimento tradicional com a avançada tecnologia chinesa tem o potencial de revolucionar a forma como produzimos alimentos, tornando-a mais eficiente, sustentável e acessível.
O Brasil, com seu território continental e sua diversidade de biomas, possui um vasto conhecimento em práticas agrícolas sustentáveis e uma crescente rede de agricultores familiares e movimentos sociais engajados na agroecologia. Essa base sólida de saberes empíricos, muitas vezes transmitidos por gerações, é um trunfo inestimável para o desenvolvimento de sistemas produtivos mais resilientes e em harmonia com a natureza.
Por outro lado, a China tem se destacado globalmente em diversas frentes tecnológicas, incluindo a inteligência artificial, a biotecnologia, a robótica e o sensoriamento remoto. Essas tecnologias, quando aplicadas ao contexto agroecológico, podem otimizar processos, monitorar lavouras de forma mais precisa, prever condições climáticas e até mesmo desenvolver novas variedades de culturas mais resistentes a pragas e doenças, sem a necessidade de agrotóxicos sintéticos.
Sinergias Potenciais
A combinação desses dois pilares – o conhecimento agroecológico brasileiro e a tecnologia chinesa – poderia gerar sinergias inéditas. Imagine, por exemplo, o uso de drones equipados com sensores multiespectrais, desenvolvidos na China, para mapear a saúde do solo e a diversidade de plantas em sistemas agroflorestais brasileiros. Ou a aplicação de inteligência artificial para analisar dados climáticos e recomendar as melhores práticas de plantio e colheita para cada microclima, otimizando o uso da água e dos recursos naturais.
Além disso, a biotecnologia chinesa poderia contribuir para o desenvolvimento de biofertilizantes e biopesticidas mais eficazes, reduzindo ainda mais a dependência de insumos químicos. A robótica, por sua vez, poderia ser empregada em tarefas repetitivas, liberando os agricultores para se dedicarem a atividades de maior valor agregado, como o manejo da biodiversidade e a comercialização dos produtos.
Desafios e Oportunidades
É claro que essa parceria não está isenta de desafios. Questões como a transferência de tecnologia, a adequação das ferramentas às realidades locais e a garantia de que as soluções sejam acessíveis a pequenos produtores precisam ser cuidadosamente consideradas. No entanto, o potencial de ganhos é imenso.
A colaboração entre Brasil e China na área da agroecologia pode não apenas impulsionar a produção de alimentos saudáveis e sustentáveis em ambos os países, mas também servir como um modelo para outras nações em desenvolvimento. Em um cenário global de crescentes preocupações com a segurança alimentar e as mudanças climáticas, essa união de forças pode ser a chave para construir um futuro mais resiliente e equitativo para a agricultura mundial. O que você acha que seria o maior benefício dessa parceria para os pequenos agricultores no Brasil?
Esta edição do Bem Viver, programa do Brasil de Fato, apresenta como a combinação de duas tecnologias, desenvolvidas de forma independente no Brasil e na China, está sendo analisada no país asiático. A combinação dessas inovações pode oferecer mais alternativas e melhores práticas para diminuir o uso de insumos químicos na agricultura familiar.
O Brasil vem desenvolvendo uma tecnologia chamada "rochagem" há mais de 20 anos, que utiliza o pó de rochas para adubar os solos. Enquanto isso, a China desenvolveu a tecnologia de compostagem acelerada, diminuindo o tempo necessário para produzir fertilizantes orgânicos. Atualmente, uma colaboração entre a Universidade de Brasília (UnB) e o Instituto de Pesquisa em Reciclagem Orgânica da Universidade Agrícola da China (UAC) investiga a integração das duas tecnologias.
Caroline Gomide, docente da UnB e pesquisadora visitante na UAC, lidera a pesquisa. A tecnologia chinesa de compostagem orgânica acelerada não é a única opção, mas se destaca por ser a mais econômica em relação a outras, como a europeia.
Gomide esclarece que, em geral, o processo de conversão de resíduos orgânicos, tanto de cozinha quanto da agricultura, em composto orgânico pode durar de 4 a 6 meses. Com a tecnologia da UAC, a transformação leva apenas 7 dias, e o produto final (considerando o tempo de maturação) fica pronto em um mês. Apesar de o estudo que integra esse processo à rochagem — a técnica mais empregada no Brasil — ainda estar em progresso, já existem indícios sobre a possibilidade de sinergia entre as duas abordagens.
"A oferta de nutrientes inorgânicos para a planta, penhorado por esse fertilizante orgânico resultante da combinação das tecnologias, será muito superior em comparação com o uso exclusivo de matéria orgânica ou apenas dos remineralizadores", afirma Caroline Gomidele.
Isso ocorre porque, segundo a professora da UnB, os micro-organismos não apenas decompõem a matéria orgânica, mas também a transformam em nutrientes que as plantas podem absorver. “Assim, as plantas terão maior acesso a nutrientes, o que traz mais saúde para as plantas, para o solo e para os micro-organismos também.” "Isso está de acordo com um dos ensinamentos de Ana, a [pioneira da agroecologia no Brasil].