O Retorno das Sombras: Doenças da Idade Média Ainda Circulam e Fazem Vítimas na Atualidade
Doenças históricas desafiam a modernidade: Pobreza, resistência a antibióticos e falhas no saneamento mantêm Peste, Hanseníase e Tuberculose ativas no século XXI.
Ricardo de Moura Pereira
11/17/20252 min read


São Gonçalo, RJ – Enquanto a medicina moderna avança a passos largos no combate a novas ameaças virais e doenças crônicas, um fenômeno intrigante – e preocupante – tem chamado a atenção de epidemiologistas e autoridades de saúde pública em todo o mundo: o ressurgimento e a persistência de doenças que, para muitos, pertencem apenas aos livros de história, as chamadas "doenças da Idade Média".
Patologias que devastaram populações séculos atrás, como a Peste Bubônica, a Hanseníase (Lepra) e a Tuberculose, nunca foram completamente erradicadas e continuam a circular, fazendo vítimas silenciosas e desafiando os sistemas de saúde globais.
A Persistência Implacável
A principal razão para a circulação contínua destas doenças é multifatorial, mas está profundamente ligada a problemas sociais e falhas na saúde pública:
Pobreza e Saneamento Básico: Em áreas com infraestrutura precária, condições insalubres facilitam a transmissão de vetores e a proliferação de bactérias. A Peste, por exemplo, ainda é endêmica em partes da África, Ásia e Américas, com surtos esporádicos ligados a roedores.
Resistência a Antibióticos: A Tuberculose (TB) é talvez o exemplo mais alarmante. Impulsionada pelo uso inadequado de antibióticos e pelo abandono do tratamento, cepas de TB resistentes a múltiplos medicamentos (MDR-TB e XDR-TB) se tornaram uma crise global, exigindo tratamentos longos, caros e nem sempre eficazes.
Vacinação e Diagnóstico Tardio: O estigma social e a falta de acesso a diagnóstico precoce contribuem para a propagação da Hanseníase. Embora curável, o atraso no diagnóstico pode levar a incapacidades permanentes, perpetuando o ciclo da doença, especialmente em países de baixa e média renda, como o Brasil.
Movimentação Populacional: Conflitos e grandes fluxos migratórios criam aglomerações e ambientes propícios para a transmissão de doenças de fácil contágio, reintroduzindo-as em regiões onde haviam sido controladas.
🔎 Exemplo no Brasil: O Ministério da Saúde do Brasil continua a notificar milhares de casos anuais de Tuberculose e Hanseníase, indicando que, apesar dos avanços, o controle destas doenças históricas é um desafio constante, especialmente em estados mais pobres ou com grandes disparidades sociais.
O Alerta da Ciência
Especialistas alertam que tratar estas "doenças antigas" com complacência é um erro perigoso. O ressurgimento pode ser agravado por fatores modernos, como as mudanças climáticas, que alteram o habitat de vetores como ratos e pulgas.
“Não podemos nos dar ao luxo de ignorar a Peste ou a Hanseníase só porque são ‘doenças antigas’,” afirma a Dra. Eliana Mendes, epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz. “A resistência da Tuberculose aos medicamentos é uma ameaça existencial. Estamos caminhando para uma era onde infecções historicamente tratáveis podem se tornar sentenças de morte novamente se não investirmos massivamente em pesquisa, diagnóstico rápido e, acima de tudo, em equidade social e saneamento básico.”
O combate eficaz a estas doenças exige uma abordagem holística que vá além da cura médica. É necessário atacar as raízes socioeconômicas que permitem que as doenças da Idade Média continuem a prosperar no século XXI.
Fonte - Metrópoles