IOF simboliza uma "grande derrota" do governo Lula, segundo cientista político, em relação ao Congresso que trabalha para defender a elite
Paulo Niccoli Ramirez afirma que o caso expõe uma aliança entre o Legislativo, a mídia e a extrema direita
Ricardo de Moura Pereira
6/27/20252 min read


Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o cientista político e professor Paulo Niccoli Ramirez declarou que a rejeição do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Congresso Nacional constitui uma das maiores derrotas do governo Lula (PT) até o momento. A proposta, que foi rejeitada em um plenário esvaziado, visava reduzir o déficit fiscal e proteger os investimentos em setores sociais.
"Foi uma das derrotas mais significativas do governo Lula. Esse mesmo Congresso se opôs ao aumento de impostos sobre os mais ricos e sobre transações superiores a R$ 5 mil no Pix. Por outro lado, “sempre coloca o peso dos gastos públicos nas costas dos mais pobres”, critica o docente.
De acordo com Ramirez, a oposição a qualquer imposto sobre os mais ricos demonstra uma estratégia focada na proteção dos interesses das elites financeiras. "Trata-se de uma política egoísta, voltada para o interesse próprio das elites, que, lamentavelmente, apenas encarece o Estado. São precisamente esses políticos que criticam o alto gasto do Estado. Por isso, segundo ele, “o neoliberalismo é um discurso falseador: é um Estado mínimo para o povo, mas é um Estado máximo para as elites”.
Além disso, o docente critica a falta de coerência dos parlamentares que criticam os gastos públicos, mas não questionam os subsídios ao agronegócio ou o pagamento da dívida pública com altos juros. "Nem cogitam, por exemplo, reduzir o Plano Safra, que oferece subsídios para a produção agrícola, nem alterar o pagamento dos títulos da dívida pública, com juros elevados." "O Banco Central é autônomo, porém está sob intensa pressão do mercado", ressalta.
O Projeto eleitoral
Segundo ele, a atuação do Legislativo, combinada com a ofensiva da extrema direita nas redes sociais e em setores da imprensa, visa deteriorar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pouco antes das eleições presidenciais de 2026. "Esses grupos do centro estão aproveitando essa situação para deteriorar ainda mais a imagem do governo e garantir que algum representante dos seus interesses realmente chegue ao poder", declara.
Entretanto, segundo o professor, a estratégia “pode ser um tiro pela culatra”, pois Lula começa a se envolver mais em sua próxima campanha política. "Já está concedendo mais entrevistas, fazendo declarações relevantes e bem fundamentadas contra as posições do centrão, principalmente." O próprio Lula é o melhor porta-voz do governo, e ele já se deu conta disso. "Ele possui habilidade de persuasão", analisa.
Na perspectiva do cientista político, a solução para mudar esse quadro seria a escolha de representantes genuinamente dedicados a uma política fiscal mais equitativa. "A única maneira de mudar isso é por meio de eleições que escolham políticos de esquerda e progressistas, capazes de realmente alterar a regulamentação fiscal neste país", afirma.