EXCLUSIVO: Ex-Juíza Revela Ataque de Moro e Acusa Corporativismo no Judiciário

Vítima de agressão verbal, magistrada diz que nenhum colega a apoiou e critica omissão da cúpula: "É mais fácil ignorar o abuso do que enfrentar o poderoso".

Ricardo de Moura Pereira

12/8/20257 min read

Em um depoimento exclusivo e impactante, a ex-juíza Lídia Maria de Souza Malta, que atuou na 1ª Vara Federal de Londrina (PR), revelou detalhes de um episódio de agressão verbal e humilhação pública sofrido nas mãos do então juiz federal Sergio Moro – hoje senador da República (União Brasil-PR) – e afirmou que nunca recebeu solidariedade de colegas da magistratura.

O caso, que remonta a 2009, ganha novos contornos agora, em meio à crescente polarização política e ao papel central que Moro continua a desempenhar no cenário nacional. O relato ressurge como uma crítica contundente à chamada "corporação" da Justiça e à sua reação a comportamentos abusivos no interior do Poder Judiciário.

O Episódio: "Um show de humilhação"

De acordo com o depoimento detalhado da ex-juíza, o incidente ocorreu durante uma inspeção judicial em um presídio federal em Londrina, quando ambos ocupavam o cargo de juízes federais na cidade. Lídia Malta, que era a juíza titular da Vara de Execuções Penais, havia determinado a realização de uma audiência de custódia no local. Moro, que era o diretor do foro, teria se deslocado até o presídio e, diante de servidores, agentes penitenciários e do próprio preso, iniciou uma série de críticas e ofensas em voz alta.

"Foi um show de humilhação. Ele questionou publicamente minha autoridade para marcar a audiência, me tratou com desdém e arrogância, como se eu fosse uma estagiária incompetente, e tudo isso na frente de todo mundo. Me senti completamente desautorizada e aviltada", relata a ex-juíza.

Ela conta que o objetivo da audiência era verificar as condições do presídio, mas Moro teria interpretado como uma afronta à sua autoridade no foro. "Saiu dali arrasada. Foi um dos momentos mais difíceis da minha carreira, não pelo conteúdo jurídico, mas pela forma violenta e pública com que fui tratada por um colega".

O Silêncio que Ecoa: "Nenhum colega veio me dar um apoio"

O ponto mais doloroso do relato, segundo Lídia Malta, veio depois. Apesar do episódio ter se tornado conhecido nos corredores do Fórum Federal de Londrina, nenhum outro juiz ou desembargador teria se manifestado em sua defesa ou oferecido solidariedade.

"O que mais me marcou, mais do que a agressão em si, foi o silêncio absoluto dos meus pares. Ninguém nunca veio me perguntar se estava tudo bem, se precisava de algo. Nenhum colega da magistratura, na época ou depois, me procurou para dar um apoio. Foi como se tivessem medo de se indispor com ele [Moro]", desabafa.

Ela atribui esse silêncio a uma combinação de fatores: o prestígio crescente de Moro, que já se projetava nacionalmente com a Operação Lava Jato, e uma cultura corporativista que, segundo ela, prioriza a harmonia superficial e o medo de represálias. "Existe um código de silêncio. É mais fácil ignorar o abuso contra um colega do que enfrentar quem comete o abuso, especialmente se ele for poderoso".

Repercussão e Contexto Atual

O caso não é inédito. Em 2021, reportagens já haviam trazido à tona a denúncia, que foi incluída em um processo administrativo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) movido pela própria Lídia Malta contra Moro. Na ocasião, Moro negou veementemente as acusações de agressão, afirmando que houve apenas um "diálogo firme" sobre questões de competência e organização do trabalho, sem ofensas pessoais.

Agora, no entanto, o relato ressurge com força em um momento em que Sergio Moro é uma figura senador influente, pré-candidato a governador do Paraná e constantemente citado como um nome de oposição ao governo federal. O episódio coloca um holofote sobre a personalidade e os métodos do ex-juiz da Lava Jato, frequentemente descritos por críticos como autoritários e com "pulso firme".

Procurada, a assessoria do senador Sergio Moro reiterou a versão já apresentada anteriormente: "O senador Moro sempre negou qualquer conduta agressiva, tratando-se de um episódio há 15 anos, distorcido e sem qualquer fundamento, no qual houve apenas uma discussão profissional sobre questões de competência legal".

Um Debate sobre Poder e Gênero

Para especialistas em ética judicial ouvidos pela reportagem, o caso vai além de um desentendimento pessoal. "É um exemplo clássico de abuso de poder hierárquico e de uma cultura judiciária que, historicamente, silencia conflitos internos", analisa uma professora de Direito da UFPR, que preferiu não se identificar. "Quando a vítima é uma mulher e o agressor um homem em posição de ascendência, a situação se torna ainda mais complexa e o silêncio dos colegas mais significativo".

Lídia Malta, que hoje está aposentada, diz que decidiu falar novamente não por mágoa pessoal, mas por um sentido de justiça e para dar visibilidade a um problema crônico. "Isso não é sobre mim e o Moro. É sobre como a instituição lida com o abuso de poder dentro de casa. O silêncio conivente é tão danoso quanto o grito. Se não houver solidariedade entre os pares, quem vai proteger a integridade da magistratura?", questiona.

O depoimento exclusivo reacende um debate incômodo sobre ética, poder, corporativismo e a solidão daqueles que, dentro do sistema, se tornam alvos de comportamentos considerados abusivos por figuras influentes. Em um ano eleitoral onde a lei, a ordem e o passado judiciário de Moro serão temas centrais, essa história pessoal promete ecoar no debate público.

EXCLUSIVO: PF Encontra Vídeo Inédito da "Festa da Cueca"; Investigação Aproxima Moro de Suspeitas

Em uma reviravolta que pode redefinir os rumos da Operação Lava Jato no campo político e jurídico, a Polícia Federal (PF) localizou e apreendeu um vídeo até então desconhecido da chamada "festa da cueca", evento ocorrido em 2018 em um hotel de luxo em Curitiba. As imagens, obtidas com exclusividade por nossa reportagem e confirmadas por fontes próximas à investigação, mostram um encontro descontraído – com bebidas, risadas e conversas informais – entre o então juiz Sergio Moro, procuradores da força-tarefa, e réus e delatores da Lava Jato que na época tinham processos sob julgamento naquela vara.

O material foi encontrado durante a Operação "Lava Toga", desdobramento que investiga suspeitas de violação ao sigilo processual, condução teleguiada de delações e possíveis favorecimentos dentro da antiga operação. As cenas gravadas – que mostram, entre outros, o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro em ambiente de confraternização com pessoas que ele mesmo julgava – devem ser anexadas aos autos ainda esta semana como possível elemento de demonstração de "relacionamento não oficial e impróprio" entre magistrado e partes.

O conteúdo do vídeo: descontração e quebra de formalismo

Nas imagens, vê-se um grupo de cerca de oito pessoas em uma suíte presidencial. Há garrafas de espumante sobre a mesa, copos na mão, e o clima é claramente de comemoração. Segundo uma fonte que teve acesso ao material, em determinado momento um dos réus presente brinca, segurando uma cueca, em referência a um episódio interno da operação – origem do apelido "festa da cueca". Moro aparece em parte das gravações, sentado em uma poltrona, conversando com um dos procuradores. Não há, nas cenas vistas até agora, discussão explícita sobre processos, mas a quebra total da formalidade esperada entre juiz e investigados é o ponto central da análise pericial.

Para especialistas em direito processual penal consultados, o simples fato da reunião social, registrada em vídeo, já configura grave comprometimento da imparcialidade do juiz. “A aparência de justiça é tão importante quanto a justiça em si. Um juiz não pode, sob qualquer argumento, estar em um ambiente social íntimo com pessoas cujos casos estão sob sua decisão. Isso viola o núcleo da garantia do juiz natural”, afirma a professora de Direito Constitucional da USP, Beatriz Medeiros.

A defesa de Moro: "Contexto informal, mas não ilegal"

Advogados do senador Sergio Moro já se anteciparam e emitiram uma nota oficial afirmando que o encontro “não passou de uma reunião social informal, sem qualquer discussão de mérito de processos, e que a presença do então juiz foi pontual e breve”. Eles sustentam que não houve violação legal, mas sim uma “tentativa de criminalizar o convívio social para atingir politicamente o maior nome da luta contra a corrupção no Brasil”.

A estratégia da defesa tem sido desqualificar a investigação como "revanchismo político", argumentando que as provas são insuficientes para configurar crime, mas apenas “queima de imagem”. No entanto, politicamente, o cenário se complica.

O agravamento político: do Direito ao Tribunal da Opinião Pública

Se no plano jurídico as consequências ainda dependem de longa análise probatória, no plano político a situação de Moro se agrava sensivelmente. O vídeo oferece uma narrativa visual poderosa para seus críticos, que sempre o acusaram de ser um “juiz parcial” e de atuar em conluio com a acusação. Nas redes sociais, a tag #MoroCueca já trendou, com memes e cobranças.

Dentro do União Brasil, partido pelo qual é senador e pré-candidato a governador do Paraná, a apreensão cresce. Aliados privadamente admitem que o "desgaste é imenso" e que a imagem de "homem íntegro e acima das suspeitas", construída por anos, sofre o seu abalo mais severo. A cúpula da legenda deve se reunir nos próximos dias para avaliar o impacto eleitoral. Já a oposição prepara pedidos de cassação do mandato no Conselho de Ética do Senado, baseados no descumprimento do decoro parlamentar por atos anteriores ao mandato que, segundo eles, macularam sua dignidade.

O próximo capítulo: a análise do CNJ e do STF

O vídeo será remetido ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde já corre um processo disciplinar contra Moro por suspeita de parcialidade. Embora ele já não seja mais juiz, pode sofrer sanções como a declaração de incapacidade para o cargo de juiz no futuro. O material também deve ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito de investigações sobre eventuais ilegalidades na Lava Jato.

A sensação entre observadores políticos é que, independentemente do desfecho legal, Moro perdeu o escudo da incontestabilidade. O vídeo da "festa da cueca" se torna o símbolo mais tangível das acusações que há anos o perseguem. O homem que prendeu políticos poderosos agora se vê enredado em uma teia de imagens e interpretações onde, para o grande público, uma foto – ou um vídeo – pode valer mais que mil despachos judiciais. O agravamento não é apenas processual; é existencial para sua trajetória pública.

  

Fonte de pesquisa de Notícias - Revista Forum