Com a Selic a 15%, como aplicar na renda fixa? Prefixados figuram entre os favoritos
Os títulos públicos oferecem estratégias para todos os perfis, ao passo que no crédito privado "está difícil encontrar boas oportunidades"
8/3/20253 min read


Com a Selic mantida, investir em renda fixa continua sendo uma opção segura e lucrativa, considerando que o título de menor risco do Brasil, o Tesouro Selic, oferece um rendimento bruto de 15% ao ano. Contudo, com o mercado já prevendo um ciclo de redução das taxas de juros, outros títulos surgem como opções na renda fixa pública e privada.
Marcel Andrade, chefe de Investment Solutions da SulAmérica Investimentos, observa que “uma Selic de 15% com uma inflação de aproximadamente 5,20% resulta em um juro real de quase 10%”. Nesse contexto, segundo ele, “os investidores devem manter suas posições na renda fixa”.
Onde eu devo investir na renda fixa pública?
"É muito vantajoso ter uma taxa contratada de 15% ao ano, pois sabemos que o Banco Central manterá esses juros por pelo menos seis meses", afirma Nicolas Gass, head de alocação e sócio da GT Capital, ao aconselhar a exposição ao Tesouro Selic. Para ele, com os pós-fixados, "não tem erro". O especialista afirma que o papel "é muito tranquilo para navegar neste mar de incertezas em que nos encontramos atualmente".
Lucas Constantino, estrategista-chefe da GCB Investimentos, observa que os investimentos pós-fixados, devido à sua rentabilidade estar diretamente relacionada à taxa básica de juros, “funcionam como uma proteção natural contra possíveis alterações na política monetária”. Ele defende que "essa qualidade é particularmente importante em um contexto caracterizado por instabilidade geopolítica, dúvidas fiscais e aumento dos riscos políticos antes das eleições de 2026".
O Tesouro IPCA+, junto com o Tesouro Selic, continua sendo um dos favoritos dos analistas. Andrade considera os juros reais de aproximadamente 7,5% ao ano em títulos de dez anos “muito atrativos”, aconselhando-os para “investidores de longo prazo que podem manter o ativo até o vencimento sem se preocupar com a volatilidade da marcação a mercado”.
Diferentemente do que ocorria alguns meses atrás, os pós-fixados e títulos de inflação não são mais os únicos indexadores preferidos pelos especialistas. Os prefixados, anteriormente mencionados como boas opções, já são considerados os favoritos em algumas recomendações, como a de Fernando Gonçalves, especialista em investimentos e sócio da The Hill Capital.
Gonçalves sustenta que as taxas atuais — variando de 13,64% a 14,08% ao ano nos títulos disponíveis para aquisição no mercado primário — “já espelham um contexto de juros elevados e instabilidades fiscais, o que permite ganhos caso haja qualquer melhoria no cenário econômico”. Nesse cenário, os investidores perceberiam um efeito positivo da marcação a mercado em suas carteiras devido à redução das taxas, o que poderia resultar em lucros com a antecipação da saída do investimento.
No que diz respeito à duration (prazo médio de recebimento), a sugestão de Gaas é utilizar os pós-fixados para investimentos de curto prazo e recorrer a títulos de inflação e prefixados para aplicações com prazo mais longo. Ele afirma que, com os juros elevados, “não há motivo para se arriscar em outro tipo de indexador” no curto prazo. No entanto, para investimentos com prazo de pelo menos seis anos, os outros papéis são viáveis, “até porque conseguimos, inclusive, realizar alguns movimentos de saída antecipada caso percebamos uma tendência de queda nos juros”, explica Gaas.
Oportunidades escassas no crédito privado
Marcel Andrade afirma que, no crédito privado, que inclui debêntures, CRIs, CRAs e outros títulos, "a atratividade ainda é limitada". A compressão de spreads (prêmios em relação aos títulos públicos com mesmo indexador e vencimento) é o principal fator de pressão sobre a atratividade, resultado da elevada demanda dos investidores por esses papéis.
O especialista da SulAmérica Investimentos também prevê que o provável término da isenção fiscal em ativos incentivados deve gerar uma corrida por debêntures incentivadas para aproveitar o benefício fiscal vigente até o final deste ano, “o que tende a comprimir ainda mais os spreads”.
Nesse cenário, Marcelo Peixoto, gestor de crédito privado da Trigono Capital, caracteriza 2025 como “um ano de bastante cautela”. Segundo ele, este é um período de "carrego", ao passo que os anos anteriores foram de ganho de capital. Assim, a atitude em relação ao crédito privado deve ser de cautela, a fim de “não entrar em nenhum problema”.
O gestor destaca a importância de investir em empresas "com melhor saúde financeira" e aponta que existem oportunidades em papéis de vencimento mais longo: "em tempos difíceis, preferimos ter uma duration (prazo médio de recebimento) mais curta; agora, acredito que é necessário ampliar um pouco a perspectiva em relação a isso." Imagine que todos estão fazendo esse movimento; então, provavelmente, está se criando uma oportunidade no papel mais longo.”