A "química" que ninguém esperava entre Lula e Trump
Trump e Lula surpreendem o mundo com elogios e um encontro cordial na ONU.
Ricardo de Moura Pereira
9/25/20253 min read


O "Homem Legal" e a "Química": O Que Significa para o Brasil?
O apreço de Trump por Lula, a quem ele chamou de "um homem muito legal", pode ter implicações de longo alcance para a política externa brasileira. A relação entre os dois países tem oscilado historicamente entre a cooperação estratégica e o alinhamento político. A eleição de Lula em 2022 trouxe uma nova fase, marcada por uma busca por autonomia e por uma maior proximidade com nações do Sul Global, o que por vezes colidiu com os interesses americanos.
A mudança de tom de Trump, portanto, pode ser vista como um reconhecimento da importância do Brasil no cenário mundial e uma tentativa de reverter a percepção de que a relação bilateral está em declínio. Para o Brasil, a possibilidade de um canal direto e pessoal com um líder americano que demonstra simpatia e vontade de negociar é uma oportunidade a ser explorada.
As Duas Faces de Trump: Entre o "Bromance" e a Ameaça Econômica
A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas foi palco de um discurso de Donald Trump que, de forma inusitada, combinou elogios a Lula e uma dura crítica à política econômica brasileira. O presidente dos Estados Unidos, que havia acabado de descrever uma "química excelente" com o líder brasileiro, não hesitou em reiterar a justificativa para as recentes e pesadas tarifas impostas sobre produtos do Brasil, as quais ele classificou como uma "retaliação" a supostas tarifas "injustas".
A Estranha Dança da Diplomacia: Trump Oscila Entre Elogios e Ameaças ao Brasil
O palco da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas, tradicionalmente reservado para a mais alta diplomacia, se transformou em um cenário de paradoxos na terça-feira. No mesmo discurso em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elogiou a "química excelente" com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ele não hesitou em desferir um golpe verbal e econômico contra o Brasil. Essa dualidade, que mistura cordialidade pessoal e retórica agressiva, revela a complexidade da abordagem "America First" de Trump e levanta sérias dúvidas sobre o futuro das relações bilaterais.
Democracia e Soberania Inegociáveis: O Discurso Contundente de Lula na ONU
Em meio a uma escalada de tensões com os Estados Unidos, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva utilizou seu discurso de aproximadamente 15 minutos na Assembleia Geral das Nações Unidas como um púlpito para a defesa intransigente da soberania nacional e da independência de suas instituições. Em uma fala que se destacou pela sua firmeza, Lula abordou diretamente as recentes sanções americanas contra autoridades e exportações brasileiras, incluindo o gesto inédito de revogação de vistos de familiares de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Sem rodeios, Lula classificou a imposição de sanções dos EUA como uma "agressão contra a independência do Poder Judiciário", uma ação que ele considerou "inaceitável". O presidente foi além, acusando a Casa Branca de agir em conluio com uma "extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias", em uma clara alusão a grupos políticos internos que, segundo ele, orquestram ações contra o próprio país. A crítica direta aos Estados Unidos e a seus aliados internos demonstra a postura de não-alinhamento automático do governo brasileiro e a defesa de seus próprios mecanismos legais e políticos.
As sanções americanas, que incluíram a revogação de vistos da esposa e dos filhos do ministro Alexandre de Moraes, bem como restrições contra o advogado-geral da União, Jorge Messias, foram vistas como uma clara tentativa de ingerência. Lula, ao defender publicamente os alvos dessas medidas, sinalizou que o Brasil não cederá a pressões externas que buscam minar a autoridade de suas instituições.
O Julgamento de Bolsonaro como Símbolo de Força
Um dos pontos mais fortes do discurso de Lula foi a forma como ele utilizou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro como prova da solidez da democracia brasileira. Em contraposição à narrativa do ex-presidente americano Donald Trump, que chamou o julgamento de "caça às bruxas" e o usou como pretexto para impor tarifas ao Brasil, Lula reforçou a legitimidade do processo.
"Pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito", destacou o presidente. Ele fez questão de frisar que Bolsonaro foi "investigado, indiciado, julgado e responsabilizado" com "amplo direito de defesa", uma prerrogativa que, segundo Lula, as ditaduras negam a suas vítimas. Ao enquadrar o evento dessa maneira, Lula transformou um momento de tensão política interna em uma poderosa demonstração de que as instituições brasileiras funcionam, mesmo quando enfrentam desafios extremos.