A Derrota de Darcy Ribeiro em 1994 e a Gênese do Sucesso de Cláudio Castro (2022) no Rio
CIEPs versus Pragmatismo: Como a Rejeição ao Legado Brizolista Abriu Espaço para o Modelo de Gestão Focado em Ordem
11/8/20252 min read


A ascensão meteórica e a vitória folgada do governador Cláudio Castro (PL) na eleição do Rio de Janeiro em 2022, reelegendo-se em primeiro turno, não pode ser compreendida apenas pelo contexto político recente. Analistas apontam para um fenômeno de longo prazo na política fluminense, cuja gênese remonta à eleição de 1994 e à derrota de uma das figuras mais emblemáticas da intelectualidade brasileira: Darcy Ribeiro.
A Queda da Esquerda Intelectual (1994)
Em 1994, após o afastamento do então governador Leonel Brizola, o antropólogo e educador Darcy Ribeiro (PDT) assumiu o Palácio Guanabara e buscou a reeleição. Ele representava o auge da esquerda trabalhista e intelectual no Rio. No entanto, o Rio vivia o auge da crise de segurança pública, e a população ansiava por soluções imediatas e por uma gestão que trouxesse a sensação de ordem.
Darcy Ribeiro, com seu foco na educação e em projetos de longo prazo – como a criação dos CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) – foi derrotado por Marcello Alencar (PSDB).
A Virada: A vitória de Alencar simbolizou a preferência do eleitorado fluminense por um discurso mais pragmático, focado na segurança pública e no gerenciamento da máquina, em detrimento dos grandes projetos intelectuais e ideológicos da esquerda.
O Legado da Derrota: A derrota de Darcy marcou o início de uma tendência de rejeição a candidatos vistos como excessivamente "ideológicos" ou "intelectuais" no Rio, especialmente aqueles ligados ao PDT e ao campo progressista.
O Caminho Aberto para o Pragmatismo (2022)
Mais de duas décadas depois, o 'êxito' de Cláudio Castro em 2022 se insere perfeitamente nessa esteira do pragmatismo e do apelo à ordem. Castro, que assumiu o governo após o impeachment de Wilson Witzel, não é um líder intelectual nem um ideólogo. Sua campanha focou em dois pilares centrais que ressoam com a preferência histórica do eleitorado pós-1994:
Segurança e Ordem: Utilizando o aparato policial em operações midiáticas e adotando um discurso firme contra o crime organizado, Castro se posicionou como o gestor que "faz o que tem que ser feito" na segurança.
Pragmatismo e Gestão de Obras: Priorizou a entrega de obras de infraestrutura e a liberação de recursos para os municípios (o chamado "varejo político"), fortalecendo a aliança com prefeitos e vereadores do interior e da Baixada Fluminense.
Em 2022, os adversários de Castro – como Marcelo Freixo e Rodrigo Neves – tentaram resgatar o campo de Darcy, mas encontraram um eleitorado já acostumado a priorizar o gestor que promete resultados rápidos e concretos sobre o teórico que defende transformações estruturais.
Conclusão da Análise: A derrota de Darcy Ribeiro não é apenas um fato histórico, mas o marco fundador de um tipo de eleitorado no Rio de Janeiro que valoriza a governabilidade, o discurso anti-ideológico e a promessa de segurança, independentemente do pedigree político. Cláudio Castro soube capitalizar essa preferência, preenchendo o vácuo deixado pela ausência de um grande projeto intelectual e focando no que o eleitor fluminense tem buscado desde meados dos anos 90: a sensação de que o Estado está no controle.