O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, revelou em depoimento à CPI da Covid que recebeu uma minuta de decreto para intervir no sistema elétrico nacional em 7 de setembro, dia em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez discursos golpistas em Brasília e São Paulo. Segundo Pazuello, o autor da minuta foi o coronel reformado do Exército Helcio Bruno de Almeida, presidente do Instituto Força Brasil, uma entidade que defende o governo Bolsonaro e participou da organização dos atos antidemocráticos.
Pazuello disse que recebeu a minuta por WhatsApp e que a repassou ao general Luiz Eduardo Ramos, então ministro da Casa Civil, e ao general Walter Souza Braga Netto, então ministro da Defesa. O ex-ministro da Saúde afirmou que não leu o documento e que não sabia do que se tratava. Ele também negou que tenha participado de qualquer reunião para discutir o assunto.
A minuta do decreto, divulgada pela revista Veja, previa a criação de um "gabinete de crise" para gerenciar o sistema elétrico nacional, sob o comando do general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras. O documento também autorizava o uso das Forças Armadas para garantir o fornecimento de energia e a segurança das instalações. Além disso, o decreto suspendia os poderes dos órgãos reguladores do setor elétrico, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
A revista Veja também revelou que o autor intelectual da minuta foi o advogado José Levi Mello do Amaral Júnior, ex-advogado-geral da União no governo Bolsonaro. Segundo a reportagem, Levi teria elaborado o documento a pedido do coronel Helcio Bruno, que seria seu amigo pessoal. Levi negou ter participado da elaboração do decreto e disse que apenas deu uma "opinião jurídica" sobre o tema.
Outro personagem envolvido na trama é o general reformado do Exército Eduardo José Barbosa, presidente do Clube Militar, uma associação de oficiais da reserva das Forças Armadas. Barbosa confirmou à CPI da Covid que participou de uma reunião com Helcio Bruno e Levi no dia 6 de setembro, na sede do Clube Militar, no Rio de Janeiro. Ele disse que o objetivo do encontro era discutir a situação energética do país e que não houve nenhuma intenção de golpe.
No entanto, Barbosa admitiu que recebeu a minuta do decreto por e-mail de Helcio Bruno e que a encaminhou ao general Freire Gomes, comandante militar do Leste, responsável pela segurança do Rio de Janeiro. Barbosa disse que não sabia quem era o autor do documento e que não concordava com seu conteúdo. Ele afirmou que enviou o decreto a Freire Gomes apenas para alertá-lo sobre uma possível "provocação" contra as Forças Armadas.
Freire Gomes é considerado um dos generais mais influentes do Exército e um dos principais interlocutores de Bolsonaro na caserna. Ele foi um dos responsáveis pela operação de segurança dos atos pró-governo no Rio de Janeiro no dia 7 de setembro. Segundo a revista Veja, Freire Gomes teria recebido a minuta do decreto por WhatsApp de Pazuello, além do e-mail de Barbosa. O comandante militar do Leste teria ignorado o documento e não teria repassado a ninguém.
A CPI da Covid quer ouvir os depoimentos de Helcio Bruno, Levi e Freire Gomes para esclarecer os detalhes da minuta do golpe e quem mais teve acesso ao documento. O relator da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que há indícios de crime de responsabilidade por parte de Bolsonaro e que ele pode ser responsabilizado por tentativa de golpe.