O que se sabe sobre a prisão de suspeitos de planearem atentados no Brasil?

 

    

      News Nacional  -  Ricardo de Moura Pereira 

Na última quinta-feira, a Polícia Federal prendeu dois homens suspeitos de integrar o grupo libanês Hezbollah, considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos e por alguns países europeus. Eles são acusados de planejar ataques contra alvos judaicos no Brasil, como sinagogas e embaixadas.

Segundo a PF, os suspeitos foram identificados como Assad Ahmad Barakat e Mohamed Hassan Hamdar, ambos de nacionalidade libanesa. Eles foram presos em Foz do Iguaçu, no Paraná, onde viviam há vários anos. A operação foi realizada em conjunto com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e com a cooperação de autoridades dos Estados Unidos, da Argentina e do Paraguai.

A PF informou que os suspeitos tinham ligações com o atentado à sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em Buenos Aires, em 1994, que deixou 85 mortos e mais de 300 feridos. O Hezbollah é apontado como o autor do ataque, que teria contado com o apoio do Irã.

Os suspeitos também são investigados por lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e armas, falsificação de documentos e associação criminosa. Eles foram transferidos para a Superintendência da PF em Curitiba, onde permanecem à disposição da Justiça.

O que é o Hezbollah?

O Hezbollah é um grupo político-militar xiita fundado em 1982, no Líbano, com o objetivo de combater a ocupação israelense no sul do país. O grupo recebe apoio financeiro e militar do Irã e da Síria, e é considerado um dos principais inimigos de Israel na região.

O Hezbollah tem uma forte presença na política libanesa, onde ocupa cadeiras no Parlamento e no governo. O grupo também atua em outros países do Oriente Médio, como a Síria e o Iraque, onde apoia as forças leais ao regime de Bashar al-Assad e aos grupos xiitas que combatem o Estado Islâmico.

O Hezbollah é acusado de realizar diversos atentados terroristas ao longo de sua história, além do ataque à Amia, como o bombardeio à embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992, que matou 29 pessoas; o sequestro de aviões e diplomatas ocidentais nos anos 1980; e a explosão de um quartel dos fuzileiros navais dos Estados Unidos em Beirute, em 1983, que deixou 241 mortos.

O Brasil reconhece o Hezbollah como um grupo terrorista?

Não. O Brasil não tem uma lista oficial de organizações terroristas, mas segue as resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que não incluem o Hezbollah. O governo brasileiro também defende o diálogo com todas as forças políticas do Líbano, incluindo o grupo xiita.

No entanto, alguns setores da sociedade brasileira pressionam o governo a mudar essa posição. Em agosto deste ano, a Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) lançou uma campanha para que o Brasil reconheça o Hezbollah como uma organização terrorista. A iniciativa contou com o apoio de parlamentares, religiosos e personalidades públicas.

A campanha foi motivada pela visita ao Brasil do primeiro-ministro do Líbano, Saad Hariri, que participou da posse do presidente Jair Bolsonaro. Hariri é um aliado político do Hezbollah em seu país.

Qual é a presença do Hezbollah na América Latina?

Não há dados oficiais sobre o número de membros ou simpatizantes do Hezbollah na América Latina, mas estima-se que eles se concentrem principalmente na região da Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, onde há uma grande comunidade árabe. A região é considerada uma zona estratégica para o grupo libanês, que se aproveitaria das fragilidades das fronteiras e das leis para arrecadar fundos por meio de atividades ilícitas, como contrabando, narcotráfico e lavagem de dinheiro.

Alguns dos principais líderes do Hezbollah na América Latina já foram alvo de sanções dos Estados Unidos, como Assad Ahmad Barakat, preso na semana passada, e seu irmão, Hamzi Ahmad Barakat, que foi detido em 2002 no Brasil e extraditado para o Paraguai. Em 2016, a PF realizou a Operação Hashtag, que prendeu 12 pessoas suspeitas de planejar um atentado terrorista durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Segundo as investigações, eles tinham ligações com o Estado Islâmico, mas também com o Hezbollah.

Como o Brasil deve lidar com o Hezbollah?

Essa é uma questão complexa e delicada, que envolve aspectos diplomáticos, jurídicos e de segurança. Por um lado, o Brasil tem uma tradição de não interferência nos assuntos internos de outros países e de respeito à soberania nacional. Por outro lado, o Brasil também tem compromissos internacionais de combate ao terrorismo e de proteção aos direitos humanos.

Alguns especialistas defendem que o Brasil deve reconhecer o Hezbollah como uma organização terrorista e adotar medidas mais duras contra seus membros e atividades na América Latina. Eles argumentam que isso seria uma forma de prevenir possíveis ataques no território brasileiro e de fortalecer as relações com os Estados Unidos e Israel, dois importantes parceiros comerciais e estratégicos do Brasil.

Outros especialistas alegam que o Brasil deve manter sua posição atual e não se envolver em conflitos que não lhe dizem respeito. Eles afirmam que isso seria uma forma de preservar a diversidade e a convivência pacífica entre as diferentes comunidades que vivem no Brasil, especialmente a árabe, que é uma das maiores do mundo. Eles também sustentam que o Brasil deve priorizar o diálogo e a mediação como instrumentos de solução de conflitos, em vez de adotar posturas radicais ou unilaterais.

 Fonte de pesquisa - BBC News 

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