O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá que contar com o apoio dos presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para aprovar as pautas de seu interesse no Congresso Nacional. Essa é a avaliação da cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Segundo ela, Lula precisa manter uma boa relação com os dois líderes do Legislativo, que representam o bloco do Centrão, formado por partidos de centro e centro-direita que têm grande influência nas votações. O Centrão foi responsável pela eleição de Lira e Pacheco em fevereiro deste ano, com o apoio de Lula.
“O Centrão é um bloco heterogêneo, que não tem uma ideologia definida, mas tem interesses pragmáticos. Eles querem participar do governo, ter cargos, verbas e influência. O Lula sabe disso e está disposto a negociar com eles, como já fez em seus governos anteriores”, diz Braga.
A cientista política afirma que Lira e Pacheco têm perfis diferentes, mas complementares. Lira é mais próximo de Lula e tem mais poder de definir a pauta da Câmara, onde estão as principais reformas defendidas pelo governo, como a tributária e a administrativa. Pacheco é mais independente e tem mais diálogo com a oposição e com o Judiciário.
“Lira é um articulador político habilidoso, que consegue mobilizar sua base e impor sua agenda. Ele tem sido um aliado fiel do Lula, mas também cobra contrapartidas. Pacheco é mais moderado e equilibrado, que busca o consenso e a harmonia entre os poderes. Ele tem sido mais crítico ao governo em alguns temas, como o meio ambiente e os direitos humanos”, explica Braga.
A professora destaca que os dois presidentes do Congresso têm papel fundamental na tramitação das medidas provisórias (MPs) editadas pelo governo. As MPs são normas com força de lei que entram em vigor imediatamente, mas precisam ser aprovadas pela Câmara e pelo Senado em até 120 dias para não perderem a validade.
No entanto, há um impasse entre Lira e Pacheco sobre como deve ser feita a análise das MPs. Pacheco defende que elas passem por uma comissão mista formada por deputados e senadores antes de irem ao plenário de cada casa. Lira é contra essa etapa e quer que elas sejam votadas diretamente pela Câmara.
A questão vem gerando atritos entre os dois líderes, que trocaram acusações de “truculência” e “desrespeito”. O impasse também vem atrasando o avanço das MPs assinadas pelo governo Lula, como as que recriam o Ministério do Trabalho e Previdência, ampliam o Bolsa Família e reduzem os impostos sobre os combustíveis.
Braga afirma que Lula terá que mediar esse conflito para evitar que suas medidas caduquem ou sejam alteradas pelo Congresso. Ela diz que o presidente tem experiência e habilidade para fazer isso, mas também enfrenta resistências de setores da sociedade e da mídia que veem o Centrão como um grupo fisiológico e corrupto.
“O Lula tem um desafio grande pela frente, que é governar com uma base ampla e heterogênea, mas também com uma oposição forte e mobilizada. Ele vai ter que negociar muito com o Centrão, mas também com outros partidos, como o PSDB e o PDT, que podem se aproximar ou se afastar do governo dependendo das circunstâncias”, conclui Braga.
Fonte - https://www.bbc.com/portuguese/articles/c03k0lzwxdzo