“Pra que que rouba celular? Pra vender! Pra ganhar um dinheirinho! Depois vão para o bar tomar uma cerveja juntos”, disse Lula em uma versão do vídeo, de pouco mais de 20 segundos, compartilhado no TikTok (1, 2), Facebook e Twitter.
Em outros conteúdos, que circulam no Twitter e Facebook (1, 2), a entrevista é seguida de imagens de pessoas roubando e cometendo crimes com a seguinte fala ao fundo: “Eu não posso ver mais jovens de 14, 15 anos assaltado e sendo violentado, assassinado pela polícia”.
Captura de tela feita em 15 de julho de 2022 de uma publicação no Twitter ( . / )
Uma busca pelas palavras-chave “Lula + cerveja + roubo” no Google mostra que o tema já foi verificado por outras agências de checagens.
As publicações viralizadas compartilham trechos retirados de uma entrevista concedida pelo petista a veículos de mídia independentes de Pernambuco em 25 de agosto de 2017. Na ocasião, além do ex-mandatário, foram entrevistadas a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e a presidente nacional do partido e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT). A entrevista também foi transmitida na página oficial de Lula no Facebook.
Ao analisar a íntegra da entrevista de pouco mais de uma hora, o AFP Checamos constatou que as declarações, feitas em momentos distintos, foram editadas e colocadas em sequência no vídeo viralizado, sugerindo que o ex-presidente teria afirmado que ladrões roubam celulares “para ganhar um dinheirinho” e depois irem para “o bar tomar cerveja juntos”.
Em um primeiro momento, ao ser questionado sobre a violência em Pernambuco, Lula atribui o aumento dos indicadores criminais à situação econômica do país. “Vira uma indústria de roubar celular. Para que roubar um celular? Para vender, para ganhar um dinheirinho. Ora, então eu penso que essa violência que está em Pernambuco é causada pela desesperança”, declarou aos 13 minutos e 17 segundos.
Em sequência, ele comenta sobre o ódio no país utilizando dois times locais como metáfora: “É preciso distensionar, para a sociedade perceber que a torcida do Santa Cruz e do Sport não são inimigas, são adversárias durante o jogo. Depois vão para o bar tomar uma cerveja junto. E ainda deixam o pessoal do Náutico batendo palma do lado”.
Em nenhum momento dessa gravação o petista incentiva “tomar uma cerveja” com pessoas que cometeram delitos, como sugerem as descrições das publicações viralizadas.
O conteúdo também foi checado pelo Estadão Verifica.
Discurso em off
Algumas das publicações viralizadas também incluem imagens de pessoas cometendo crimes. Uma das versões circula com trechos de reportagens sobre latrocínio (roubo seguido de morte) cometido por assaltantes de celular.
Durante a veiculação dessas imagens ouve-se, também, uma outra fala de Lula: “Eu não posso ver mais jovens de 14, 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia. Às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular”.
Pesquisas levaram a registros que mostram o momento em que o ex-presidente fez essa declaração. Na sequência é exibido o logo da Rede TVT.
Uma busca pelas palavras “Lula” e “Seu Jornal” – logotipo exibido nos vídeos – no canal da TVT no YouTube – mostra que o trecho viral foi extraído de um discurso de Lula feito em 9 de novembro de 2019.
Na ocasião, o petista discursava na sede do Sindicato dos Metalúrgicos, na cidade de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, um dia após ser solto da prisão em Curitiba (PR).
Aos 24 minutos do pronunciamento, o ex-mandatário comenta sobre a situação política e econômica do Brasil e lista diversos indicadores, que, na sua opinião, mostram o recrudescimento da pobreza no Brasil.
Sobre isso, ele diz: “Eu não posso, aos 74 anos de idade, ver essa gente destruir o país que nós construímos. Eu não posso ver aumentar o número de gente dormindo na rua. Eu não posso ver aumentar o número de mulheres jovens vendendo o seu corpo a troco de um prato de comida”.
E, na sequência, complementa: “Eu não posso ver mais jovens de 14, 15 anos assaltando e sendo violentado, assassinado pela polícia. Às vezes inocente ou às vezes porque roubou um celular… se as pessoas tiverem onde trabalhar”.